terça-feira, 30 de outubro de 2012

"Ai aguenta, aguenta!"



Fernando Ulrich nasceu em berço de ouro: é descendente de uma família ligada à banca e às finanças, em Portugal desde meados do século XVIII, originária da Hamburgo, na Alemanha. É unido por laços familiares à família Mello. O seu avô paterno foi administrador do Banco de Portugal e o materno estava ligado às áreas da corretagem e seguros. O seu pai, João Ulrich, foi director da Tabaqueira, uma das empresas do império CUF.

Fernando Ulrich estudou num dos melhores colégio privados do país, João de Deus, no Monte Estoril, e daí seguiu para o ISE, sem concluir a licenciatura. Surge depois no "Expresso" sob pseudónimo, onde chegou a responsável pela secção de Mercados Financeiros. Em seguida foi técnico do Secretariado para a Cooperação Económica e, posteriormente, assessor do embaixador de Portugal junto da OCDE, em Paris, como responsável pelos assuntos económicos e financeiros e, mais tarde ainda, chefe de gabinete dos ministros das Finanças e do Plano dos governos Balsemão, João Morais Leitão e João Salgueiro. Transitou em 1983 do gabinete ministerial para a Sociedade Portuguesa de Investimentos, com Artur Santos Silva, que vem a dar origem ao BPI. Em Abril de 2004, e já com o cargo de vice-presidente, Fernando Ulrich tornou-se presidente do BPI.

Fernando Ulrich sempre foi publicamente identificado com o PSD e é fundador da iniciativa Compromisso Portugal. Provocou polémica com algumas propostas radicais em matéria laboral, no sentido do corte nos vencimentos dos assalariados, da liberalização total dos despedimentos colectivos e individuais, no sector público e no privado, embora “com avisos antecipados e indemnizações” para que a medida não signifique “um regresso ao século XIX”.

Fernando Ulrich apresentou as contas do BPI nos primeiros nove meses do ano. O banco teve 117,1 milhões de lucro, mais 15,3% do que no mesmo período de 2011 e eliminou 64 postos de trabalho neste período (desde 2008 já eliminou 1172). O banqueiro disse que o BPI aproveitou para comprar dívida portuguesa “com grandes descontos” e estas operações financeiras traduziram-se num lucro significativo. Ulrich também louvou o governo e pressionou o Tribunal Constitucional, clamando que teme a possibilidade de haver uma “ditadura do Tribunal Constitucional”.

Fernando Ulrich, falando esta terça-feira na conferência “III Fórum Fiscalidade Orçamento do Estado - 2013”, perguntou retoricamente se o país aguenta mais austeridade e a resposta foi “Ai aguenta, aguenta!”. “Não gostamos, mas [Portugal] aguenta, e choca-me como há tanta gente tão empenhada, normalmente com ignorância com o que está a dizer ou das consequências das recomendações que faz, a querer-nos empurrar para a situação da Grécia”. Seguindo o mesmo raciocínio, acrescentou que fica “absolutamente boquiaberto” perante pessoas com tanta responsabilidade, “raramente da maioria ou no poder”, que fazem recomendações e considerações que “terão como consequência levar Portugal, num tempo relativamente curto, para a situação da Grécia”.

Fernando Ulrich é assim.Temos de o aguentar?

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