Escrevi aqui ontem que, em nada
tendo para dizer, estou calado. Logo me sucedeu hoje, tendo tanto para dizer,
não o poder fazer!
Decorreu esta manhã uma
Reunião Extraordinária da Câmara Municipal de Nisa, mas estipula o Regimento que
nas reuniões extraordinárias não há Período de Intervenção dos Munícipes, razão
pela qual entrei mudo e sai calado.
Da Ordem de Trabalhos
constavam seis pontos. Aquele que me levou à reunião, o ponto nº 4, era a
discussão da “Proposta sobre a Tabela de Taxas e Licenças do Município de Nisa”,
em particular as tarifas de venda de água, tratamento de águas residuais e
recolha e tratamento de resíduos sólidos. Todas estas tarifas são reflectidas
num mesmo documento, a factura da água que mensalmente recebemos do Município.
A proposta levada à reunião,
apresentada pela Presidente da Câmara, preconizava a manutenção das actuais
tarifas, que fundamentou com a apresentação de alguns considerandos. Antes
desta proposta ser posta à votação, ainda durante o debate, a Vereadora
Fernanda Policarpo apresentou uma outra, do mesmo teor, mas baseada em considerandos
diferentes.
Sobre a divergência nos considerandos
pronunciar-me-ei mais tarde, logo que tome conhecimento integral dos mesmos.
Voltando à vaca fria:
estando todo o executivo de acordo no essencial, naquilo que de facto interessa
aos munícipes, os valores das tarifas, algo surreal aconteceu. A Presidente da
Câmara recusa aceitar a proposta apresentada pela Vereadora Fernanda Policarpo,
com cujo teor os vereadores do PS concordavam, e cito a Vereadora Idalina
Trindade, “na íntegra", pondo apenas à votação a sua própria proposta. Procedendo-se à
votação, os vereadores da Oposição (continuo a chamar-lhes assim, embora, em boa
verdade, não exista oposição “de jure”
num executivo camarário, apenas nas assembleias municipais, regionais ou na Assembleia
da República) não responderam quando inquiridos se votavam contra, se se
abstinham ou votavam a favor. Ou seja, não votaram.
Vamos por partes. De acordo
com o já citado Regimento da Câmara, nas reuniões extraordinárias só existe a Ordem
do Dia, previamente estipulada. No entanto, segundo o Art.º nº 7, podem ser apresentadas outras
propostas para além daquelas que constam da Ordem de Trabalhos, conforme a alínea
3:
“Até à votação de cada proposta e após
deliberada a sua inclusão na “Ordem de Trabalhos”, podem ser apresentadas,
sobre o mesmo assunto, propostas escritas e devidamente fundamentadas de facto
e de direito.”
Não sou jurista, mas a menos
que seja estúpido e burro, parece-me ter havido uma clara violação desta norma
por parte da Presidente da Câmara, porquanto a proposta da Vereadora Fernanda
Policarpo cumpria o estipulado regimental.
Passemos à não votação, por
parte dos vereadores da Oposição, da proposta apresentada pela Presidente. Nada na Lei prevê, presumo que por tão absurda que o legislador a não
contemplou no articulado, uma situação como a ocorrida, ou seja a não votação
de uma proposta. Os vereadores poderiam ter tomado uma de quatro atitudes,
essas sim previstas na Lei: votar contra, a favor, absterem-se ou ausentarem-se
da sala. Verificada esta última circunstância a reunião deveria terminar de
imediato, por falta de quórum.
O executivo tem a
obrigação de votar toda e qualquer proposta que seja levada a uma Reunião de
Câmara, seja esta Ordinária ou Extraordinária. Não o querendo fazer, o recurso
de abandonar a reunião, ainda que discutível e eventualmente sujeito a sanções,
seria o único aceitável.
No presente ano já se
realizaram no Município de Nisa 31 Reuniões de Câmara, 20 Reuniões Ordinárias e
11 Extraordinárias, ou seja, cerca de 3 reuniões por mês. Seria de esperar que,
com tamanha profusão, perfeitamente descabida, até pelos custos que acarreta
aos munícipes, a produção do executivo fosse acima da média, contribuído de
forma eficiente e eficaz para o desenvolvimento concelhio. Aquilo a que hoje
assisti só veio confirmar o que há algum tempo penso: eficiência e eficácia não
fazem parte do léxico do nosso executivo.
Las
but not least, tivemos mais uma reunião que terminou de
forma abrupta, entre insultos pessoais e linguagem que continuo a considerar
ser mais própria de lavadouro público do que de uma reunião do executivo
municipal.
No meio disto tudo, lamentando
a sorte dos munícipes, lamento sobretudo a sorte da pobre D. Alice, que secretaria as
reuniões, e se vê em palpos de aranha para apanhar o fio à meada de modo a
poder elaborar as actas.
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