segunda-feira, 3 de março de 2014

A barca do purgatório - II

Voltando à barca fria, perdão, à vaca fria, apraz-me saber que a Assembleia Municipal de Nisa aprovou por unanimidade, na passada sexta-feira, dia 28,  uma proposta do PS, depois convertida em proposta de todas as representações, repudiando a decisão unilateral da Diputácion de Cáceres e insistindo na necessidade da construção da ponte sobre o rio Sever, ligando Cedillo a Montalvão.
 
Recordo aqui que, segundo Saturnino Lopez Marroyo, Vice-Presidente e responsável pela "Área de Infraestrutura y Cooperación Municipal" da Diputácion de Cáceres, a ideia é optar por uma barcaça que permita a passagem e evite a construção de uma ponte, que necessita de um investimento inicial de mais de 7 milhões de euros, inviável para a instituição carcerenha, dada a actual Lei da Estabilidade Orçamental. Para além da barcaça, os fundos a disponibilizar pelo POPTEC, serviriam ainda para um plano de melhoramentos na rede viária da zona da Mancomunidad Sierra San Pedro, num investimento de cerca de 4 milhões de euros. De facto, parte do projecto teve já início, com a criação de "vias verdes" em Herreruela e Carbajo, um investimento de cerca de 500.000 euros. Ou seja, parte da verba disponibilizada para o projecto de construção da ponte pela Diputación, correspondente aos 25% da sua responsabilidade, aprovada por deliberação em Plenário de Abril de 2011, já está a ser utilizada para outros fins!
 
 
 
 
Mas vamos à barcaça: se for do tipo da imagem supra, com capacidade para transportar 2 ou 3 viaturas ligeiras, ocorrem-me várias perguntas:
 
  1. Quais os custos de aquisição do equipamento?
  2. Quais são e quem vai suportar os custos operacionais do equipamento, da sua manutenção e da respectiva tripulação?
  3. Funcionará em permanência ou em horário limitado?
  4. Sendo uma embarcação para transporte de viaturas necessita de cais apropriados, em ambas as margens: quem os vai construir e assegurar a sua manutenção e quais os seus custos?
  5. Não existindo em nenhuma das margens acessos a uma cota que permita o acesso à embarcação: quem os vai construir e assegurar a sua manuenção  e quais os seus custos?
  6. É tecnicamente possível o funcionamento da embarcação  sem interrupções sazonais, por força das variações da cota do rio Sever, digamos 2 ou 3 metros, provocadas pela próximidade da barragem?
  7. É segura a navegação em períodos de cheia, quando na foz do rio Sever se acumulam detritos vários, numa grande extensão, sendo alguns de grande dimensão?
Dito isto, e como não me conformo com esta decisão, decidi enviar uma mensagem, em jeito de carta aberta,  ao Presidente da Diputación de Cáceres, Léon Rodriguez, com conhecimento ao Vice-Presidente Lopez Marroyo, dando-lhe conta do meu descontentamento, com o seguinte teor:
 
Exmo. Senhor,
Serve o presente para expressar a V. Exa. o meu mais profundo desagrado pela decisão unilateral da Diputación de Cáceres em abandonar o projeto de construção da ponte sobre o rio Sever, ligando Espanha a Portugal através das povoações raianas de Cedillo e Montalvão.
A infeliz ideia de substituir a ponte, reivindicação antiga dos povos dos dois lados da fronteira, por uma barcaça, não nos satisfaz. Enquanto regiões periféricas, com graves problemas de desertificação e crescimento económico, necessitamos de uma infraestrutura capaz de contribuir, de forma eficaz e permanente, para que os problemas que experimentamos sejam ultrapassados.
Assim, repudiamos a intenção anunciada por V. Exa., em clara violação do acordo firmado com a Câmara Municipal de Nisa e com a União Europeia, através do Programa FEDER/POCTEP e a deliberação aprovada em plenário da Diputación em Abril de 2011.
Instamos V. Exa. a avançar com a construção da ponte sobre o rio Sever, dando cumprimento aos acordos internacionais que essa Diputación firmou e às sua próprias deliberações, correspondendo às expectativas geradas junto da população dos dois lados da fronteira,
José Carlos Gonçalves Monteiro
Nisa, 3 de Março de 2014
 
Solicito a todos os que subscrevem esta mensagem que a copiem, substituido o nome, local de residência e data, enviando-a por e-mail para:
presidencia@dip-caceres.es
com conhecimento a (cc):

saturnino.lopezmarroyo@dip-caceres.es

No cabeçalho do e-mail, em assunto, escrever: Ponte sobre o rio Sever, entre Cedillo (Cáceres) e Montalvão (Nisa).


Terá ista atitude algum efeito? Certamente que não. A menos que seja enviada por alguns milhares de pessoas, de um e outro lado da fronteira. Seria importante que alguém em Espanha, particularmente em Cedillo, se ler esta postagem, traduza a mensagem e a envie. Aí talvez, apenas talvez, tenha alguma consequência. Ainda assim, com efeito ou sem ele, que isso nunca foi impedimento, com ou sem companhia, farei o que sempre faço: reclamar junto de instância própria acerca de uma decisão que julgo errada e prejudicial dos nossos interesses.
.
.
imagem: http://www.radiointerior.es/index.php?op=noticia&id=33566
 

Sem comentários: