sexta-feira, 15 de julho de 2016

Débil chama...

Uma vez mais, a espada de Dâmocles que o mundo tem suspensa sobre si, Portugal incluído, se abateu sobre inocentes. Nice, a Nissa provençal, que alguns dizem ser Nisa-a-Velha, é a última vítima do extremismo, no dia em que se celebravam os valores fundamentais da democracia moderna, saídos da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade, Fraternidade -, o que reveste este acto de particular dolo. 

O autor do atentado é um cidadão francês. Significa isso que, independentemente da sua origem étnica e cultural, a França falhou na transmissão desses valores. Quando digo a França leia-se a Europa, o mundo livre, todos nós. Vivemos tempos em que uma certa ideia de Europa se erode a ritmo acelerado, em que nacionalismos fascistas se reacendem, velhas feridas se abrem. A maioria dos autores destes atentados são europeus, na casa dos 30, 40 anos de idade, filhos de uma Europa que cresceu na vertigem do neo-liberalismo, que os desprezou, os abandonou à sua sorte, que os deixou expostos à doutrinação extremista. 

A ideia de Europa de Monnet, Adenhauer, Hallstein, Bech, Schumman, Mitterrand ou Khol não passa de débil chama de um coto de vela com pavio cada vez mais curto. É aí, não no medo do estrangeiro e da diferença, que devemos procurar respostas. Fechar fronteiras, coartar a liberdade dos cidadãos em nome da segurança, numa visão orwelliana do mundo, não é a solução.

Só mais uma reflexão: vão alguns querer, na moderna senda do politicamente correcto, distanciar este acto terrorista do Islão. Nada mais errado - este terrorismo é islâmico, o erro consiste em acreditar que existe apenas um Islão. Esta é apenas uma visão do islamismo, uma visão extremista, radical, mas é no Islão que se fundamenta.

A talhe de foice: vai sendo tempo de não diferenciarmos os atentados realizados vez em quando na Europa ou na América, daqueles que todos os dias, com um número muito superior de vítimas, ocorrem no Médio Oriente, em África ou na Ásia.

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